Brasil se “descolando” dos outros mercados
Os ativos brasileiros passaram a se descolar dos mercados internacionais nos últimos 2-3 meses. No gráfico abaixo, vemos na linha azul a Bolsa brasileira em dólares – medida pelo ETF EWZ, que reflete o índice MSCI Brazil – em relação à Bolsa americana, medida pelo índice S&P500. Enquanto a Bolsa americana segue no seu rumo ascendente e de pouca volatilidade, o Brasil voltou a corrigir recentemente, mesmo diante da forte temporada de resultados que vimos.
Em reais, o Ibovespa corrigiu dos 130 mil pontos para 120 mil pontos. Em dólares, a correção ainda foi maior pois o Dólar voltou a subir em relação ao Real, voltando acima de R$5,20, mesmo com o Banco Central aumentando o passo do aperto monetário e com dados recordes da balança comercial.
O mercado que mais sofre não é a Bolsa
O maior impacto, porém, está sendo visto no mercado de juros, onde vimos a curva de juros do CDI ter um movimento de alta expressivo nos últimos 6 meses. Os juros de mais longo prazo voltaram acima de 10%, precificando uma continuação de um forte aperto monetário pela frente.
Várias razões levaram a esse aumento de aversão a risco no Brasil, entre eles riscos políticos, riscos fiscais e da inflação persistentemente alta.
A discussão da reforma tributária, que hoje tramita na Câmara, passou a preocupar o mercado pelo impacto fiscal que ela possa vir a ter, caso seja aprovada. O debate em relação ao potencial parcelamento das dívidas com precatórios para poder abrir espaço no orçamento de 2022 também aumentou essa preocupação. Isso porque precatórios são dívidas da União, e postergar (ou parcelar) seu pagamento não reduz a dívida, mas apenas aumenta o problema adiante.
Além disso, a aproximação das eleições de 2022, e quais ações serão tomadas pelo governo e pela oposição até lá já são grandes preocupações dos investidores. Discutir esses riscos não é o objetivo dessa coluna hoje, pois já fizemos na coluna da semana passada (Sunday XPresso – A lista de riscos é longa, debatendo os principais).
Voltando ao equilíbrio do passado?
O gráfico abaixo mostra o CDI com vencimento em janeiro de 2031. No começo do ano, esse contrato estava precificado em 7,2% ao ano. De lá para cá, vimos uma alta constante nos juros, que fecharam na última sexta feira em 10,28% ao ano.
Dessa forma, com o aumento dos riscos relacionados à aceleração dos gastos fiscais, dúvidas em relação ao teto de gastos e aumento persistente das expectativas de inflação, o Brasil pode estar seguindo para um equilíbrio Macro do passado: “Política Monetária apertada, com Fiscal mais frouxo”. Traduzindo, o controle da inflação sendo feito apenas pelas altas taxas de juros, e o Banco Central tendo que fazer todo o papel de controle da inflação. Isso seria um claro retrocesso ao Brasil, sendo ruim para a economia, para as empresas e para os consumidores, que terão que conviver com altas taxas de juros novamente.
Além disso, o Brasil hoje possui mais de 80% do seu PIB em Dívida Bruta, sendo uma das maiores relações de Dívida/PIB dentre os países Emergentes. Altas taxas de juros carregariam um peso enorme ao Orçamento do Brasil. O tamanho PIB do Brasil é em torno de R$8,0 trilhões atualmente. Uma taxa de juros de 10% ao ano com uma Dívida Bruta de 80% do PIB traria uma carga de juros anual em torno de R$640 bilhões.
Para uma visão completa sobre esse debate, leia o relatório da nossa equipe Macro econômica – Brasil Macro Mensal: Risco fiscal pode exigir mais do Banco Central.
Como proteger o seu patrimônio nesse cenário?
Voltando ao tema principal dessa coluna dominical, o que fazer para proteger o seu patrimônio em momentos de um cenário Macro adverso no Brasil?
A primeira regra, e a mais primordial delas, é a diversificação. Esse é o maior “almoço grátis” que o mercado te oferece. E não apenas diversificação de diferentes produtos de investimento e classes de ativos, mas também diversificação entre diferentes regiões e diferentes moedas. Não adianta ter uma carteira diversificada, mas que esteja 100% em Reais e exposta primordialmente a ativos brasileiros.
Em momentos como o atual, onde os riscos vêm de dentro do Brasil, ter uma diversificação internacional e em outras moedas é essencial.
Isso então quer dizer para fugir de ativos brasileiros, como a Bolsa e títulos de Renda Fixa? Também NÂO! Nesses momentos as melhores oportunidades tendem a aparecer, e é importante estar atento a elas.
Veja abaixo algumas opções de investimento que ajudam na proteção de patrimônio nesses momentos:
- Empresas de qualidade e alto crescimento: ações de empresas que tenham teses seculares de crescimento, e que são ganhadoras independente do cenário Macro no Brasil. Além disso, empresas que são “price-makers”, ou seja, que são líderes de mercado e conseguem repassar a inflação para os seus preços. Empresas em setores muito competitivos e que estão sofrendo com uma forte alta de custos de matérias primas podem ter dificuldade de repassá-los, e ter uma pressão de margem por consequência. Em nossas Carteiras, ressalto histórias como as da Localiza, Rede D´Or, B3 e Assaí. Veja aqui as Carteiras recomendadas.
- Ativos Internacionais: boas opções de investimentos internacionais não faltam hoje ao investidor brasileiro. A XP possui a maior plataforma de fundos internacionais do mercado, já são mais de 150 e R$26 bilhões sob gestão (veja aqui a lista completa). Além disso, BDRs, ETFs e COEs também são ótimas opções para o investidor que busca exposição à ativos internacionais.
- Dólar: é importante que o investidor mantenha um percentual da sua carteira investido em moedas fortes, como Dólar ou Euro. A maior parte dos ativos internacionais já é dolarizado, mas alguns têm hedge cambial, e não oferecem exposição cambial. Em momentos de turbulência no Brasil o Dólar tende a se fortalecer frente ao Real. Portanto, manter um percentual da carteira em ativos dolarizados ajuda a proteger seus retornos nesses momentos.
- Renda Fixa: a renda fixa voltou a ficar atrativa no Brasil, não só pelos aumentos de juros mais fortes pelo BC, mas também por essa alta no mercado do CDI. Dessa forma, muitos títulos privados já oferecem taxas bastante atrativas ao investidor, tanto nos Pré Fixados quanto nos títulos atrelados a inflação. Nos Pré Fixados, é importante lembrar que eles podem perder valor caso as taxas de mercado continuem subindo. Por isso em nossas Carteiras Recomendadas, ainda temos uma pequena exposição aos títulos Pré. Veja aqui as Carteiras por Perfil
- Commodities: as commodities são ótimas formas de proteção contra a inflação, e em grande parte estão sendo parte da causa do aumento de inflação que estamos observando no mundo. Investir diretamente nas commodities as vezes não é tão simples, mas a XP lançou recentemente o Fundo Trend Commodities FIM, que investe em uma cesta de commodities, com investimento mínimo de R$100. Veja mais informações sobre o Fundo aqui.
Fonte: XP Investimentos