Repercussões do relatório WASDE de julho
A safra 2020/21 começou de maneira turbulenta para o mercado de grãos, o qual foi fortemente impactado por uma combinação de instabilidade climática nos EUA e no Brasil, uma demanda particularmente volátil na China devido aos esforços do governo de ajustar os preços das commodities, além de uma recuperação econômica global pós-pandemia muito heterogênea. Por enquanto, conforme informado pelo relatório mensal WASDE, divulgado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o mercado de grãos parece ter se acalmado, mas os preços das principais commodities do segmento – milho e soja – seguem em patamares historicamente altos.
Do lado da oferta, podemos esperar ainda alguma instabilidade: as estimativas de produção poderiam ser negativamente afetadas caso haja surpresas em termos de produtividade da safra norte-americana; por outro lado, caso o cenário permaneça constante, enxergamos um cenário de um balanço de oferta & demanda global de grãos que permanece bastante ajustado. Consequentemente, produtores de grãos estariam sendo beneficiados, ao passo que empresas processadoras de alimentos, incluindo as companhias de proteínas, estariam tendo que repassar preços para mitigar a alta dos grãos, que representam custos para as mesmas.
Confira os 3 principais assuntos do relatório
O que mudou versus o relatório WASDE de junho? Muito pouco, conforme esperado
Após um começo de safra turbulento, com seca extrema seguida de chuva abundante em algumas áreas dos EUA, além de uma estiagem prolongada seguida por geadas pontuais no Brasil, a edição de Julho do relatório WASDE passou a mensagem de que o mercado de grãos parece ter se acalmado por enquanto, com pouquíssimas mudanças de estimativas versus aquelas apresentadas no mês passado. Por outro lado, é importante ressaltar que o mercado espera ajustes maiores para a edição de agosto do relatório, sobretudo no que tange à produtividade da safra americana, o que poderia ampliar a volatilidade do mercado novamente.
E a China? Normalização de demanda parece ser determinante
Dentre outros impactos, o Departamento de Agricultura dos EUA apontou os embarques de soja do Brasil e da Argentina rumo à China devem sofrer reduções no curto prazo, em função de uma combinação de preços domésticos mais altos e uma demanda potencialmente mais fraca por parte do país asiático. Nesse sentido, o USDA reduziu suas estimativas de importação da China em 2 milhões de toneladas (mi t) versus a estimativa de junho.
E o Brasil? Todos os olhos estão voltados para a safrinha
Em seu relatório, o USDA aponta que exportações significativamente menores são esperadas do Brasil ainda para a safra 2020/21: o órgão americano reduziu sua estimativa em 9 milhões de toneladas no caso da produção nacional, o que contribui diretamente para a redução de 7.2 mi t na previsão de exportações brasileiras.
Vale lembrar que a CONAB recentemente atualizou as suas estimativas para a safrinha brasileira de milho e atualmente espera um total de 67 milhões de toneladas de produção, uma queda de aproximadamente 10,8% versus a safra anterior, sobretudo em função do atraso do plantio do milho combinado com condições adversas de plantio nos últimos meses.
Milho: estimativa de produção global para a safra 2021/22 aumenta
A estimativa para a produção global de milho na safra 2021/22 aumentou no relatório de julho, além de exportações e estoques finais maiores. Por outro lado, os estoques iniciais, as importações e o consumo recuaram caíram ligeiramente, principalmente devido às estimativas atualizadas dos estoques americanos (-0,6mi t contra a previsão de junho) e das importações (-1,0) e consumo (-1,0) na União Europeia. Quanto ao Brasil, o USDA ajustou o potencial das exportações para 2020/21: -7,2mi t em relação à previsão de junho.
Com relação ao mercado norte-americano, a produtividade está estimada em 180 sacas/ha para a safra 2020/21, crescendo mais de 4% para 187,8 sacas/ha para a safra 2021/22. De acordo com o USDA, a precipitação ponderada em junho para os principais estados produtores de milho foi abaixo do normal, mas não representou um desvio extremo da média de 1988 a 2020.
Soja: estimativa para a produção global de soja vem ligeiramente menor
A estimativa para a produção global de soja na safra 2021/22 veio ligeiramente inferior no relatório de julho (-0,3mi t em comparação à previsão de junho), com revisão para as importações (-1,0) e exportações (-0,1). O destaque é para as exportações do Brasil e da Argentina que foram reduzidas em 3 e 2,7 mi t (20/21), respectivamente, uma vez que preços altos no mercado doméstico reduziram os embarques para a China, de acordo com o USDA. Consequentemente, o relatório trouxe uma redução de 2mi t nas importações chinesas. Por outro lado, olhando para a temporada 2021/22, estoques finais mais altos em ambos os países latino-americanos devem ajudar a mitigar os estoques mais baixos da China.
Com relação ao mercado norte-americano, a produtividade está estimada em 56,3 sacas/ha, crescendo aproximadamente 1% a 56,9 sacas/ha para a safra de 2021/22. Com mudanças compensatórias na oferta e demanda, os estoques finais americanos para a temporada 2020/21 estão inalterados em 3,7mi t. Finalmente, o USDA também destaca que o preço médio da soja para a temporada dos EUA está previsto em US$ 11,05/bu, queda de US$ 0,20, com as vendas do início da temporada a preços mais baixos pesando na previsão média da temporada.
Fonte: XP Investimentos